terça-feira, 2 de outubro de 2012

Anjos e asas



I
 Asas transparentes.
Trazia asas transparentes
O invisível anjo.

Um vôo invisível
Perturba a noite,
Livre de odores
Seu nome perpetua.

Anjos-asas
Com suas couraças e armas,
Retilíneos... oblíquos.

 
II
 Sussurrava nomes indecentes
À noite, que ouvia
Muda. Lambe e beija?
Eu era ouvido e tato.

Blasfemava seres imaginários
Que me seguiam
Com os olhos e diziam:
- Goza e segue! Vai!

Seu vulto negro pousa
E senta bem ao lado
E me impede de seguir
Suor, gozo, saliva.

O anjo, não.


III
Imaginava-o
Pregado nos dias
Nas semanas
Em meu corpo
Com dentes e unhas
Lacerando minha pele
Levemente.


 IV
 Ainda visita,
Mas de onde vem?
Suas unhas ainda desenham
Riscos apaixonados
Em minhas costas
Como num mapa.

Flores marcam o local.

O cheiro,
Um olor adocicado
Como manhãs
Como o verniz fresco de uma cadeira
Como um doce por vender
Como o cimento molhado.

As asas invisíveis
Ainda anunciam o anjo.




domingo, 30 de setembro de 2012

Lápis de cor...


Anna



 Anna

Anna havia acordado de sonhos intranquilos e estava apoiada à porta, nua. O som metálico de toda a estrutura anunciava, em estalos fora de ritmo, a dilatação e a torção de todos aqueles milhões de toneladas de metal ao seu redor. Sua buceta estava molhada e ela estava sozinha. Ela tinha a impressão de que seu gozo lhe escorria pelas pernas e, na verdade, escorria. Para ser mais preciso, uma ou duas gotas pingaram na estrutura metálica e fria. Ela pisava descalça sobre aquele piso metálico. Enquanto seu sexo molhado era a manifestação física de seus pensamentos: lembranças de encontros com homens. Seus pés tocavam quase distraídos aquele piso frio. Anna fechava os olhos e pensava em sexo; sua carne quente encostava-se ao metal frio. Havia 18 meses exatos que ela estava sozinha ali.

            Sua carne devia estar mais quente que de costume. Quando havia sido a última vez que havia praticado um dos pecados capitais? Ela pensava, ora em Marcelo, ora em Marco, ora William. Nunca terminava, em seu pensamento, a foda com o mesmo que havia começado. Ela trocava o pau que a penetrava, instantaneamente, conforme se lhe atreviam mudarem os pensamentos. Não havia um roteiro a ser seguido pelos seus homens. Se lhe ocorria um pinto mais grosso, ela trocava. Sua buceta escorria com esses pensamentos, mas ela não se tocava com os dedos. Estava recostada à porta semi-aberta, seu braço levantado revelava sua axila com pêlos, talvez cheirando a suor. Suas pernas estavam levemente afastadas, deixando entreaberta a sua buceta rósea. Seu sexo brilhava e era bonito. Seus olhos estavam semi-cerrados, meio virados, como se ela estivesse num transe. Sua aparência era meio assustadora. Uma câmera vigiava tudo, do outro lado da câmera, nada. Ela sabia que não tinha ninguém vigiando a câmera, do outro lado. Depois, ninguém iria voltar a gravação para ver o que teria acontecido.

            Enquanto William lhe enfiava o pau mais grosso que ela conseguia lembrar, ela interrompeu para pensar no quanto era estranha a idéia de uma “gravidade artificial” que se liga e desliga, como ela via nos filmes. Ela pensou então em como toda aquela estrutura estava girando em torno de um eixo; mentalmente ela comparou as palavras “gravidade” e “força centrífuga”, pensou em como podiam servir para a mesma coisa, e sorriu. Lembrou que seus pés estavam descalços sobre todo aquele metal gelado, sentiu um calafrio e voltou a pensar no pau do William dentro dela. Sua carne estava quente como se fosse febre. Ela pensou em como uma roupa devia se sentir dentro de uma centrífuga, depois ela pensou que a roupa molhada talvez pensasse em sexo. Logo em seguida, Anna estava de volta ao ano de 2004, naquela tarde chuvosa de setembro, Marcelo estava dentro dela comendo e jurando amor eterno; oito anos depois, ela chupava Marco sem apreciar muito o sabor daquele líquido que vazava aos poucos, mas gostando das reações que lhe provocava com a língua, ouvia os urros e gemidos. Agora ela estava sendo enfiada por Marcelo e chupando Marco ao mesmo tempo, separados quase oito anos um do outro, mas ao mesmo tempo. Os urros de Marco encobriam as juras de amor de Marcelo, assim, a tarde chuvosa ficava perfeita: sem juras de amor eterno.

            O metal frio provocava a sensação de solidão ao seu redor: o ar estava frio. Ela lembrou que gostou de ler uma biografia de Goebel e que, racionalmente, admirava algumas idéias dele. De certa forma, aquele metal frio no qual pisava a fez lembrar de Goebel. Ela lembrou de um vinho tinto que havia bebido a uns três anos, na Alemanha, e que havia custado exatos 243 euros; ela tentou lembrar o seu sabor e não conseguiu. Ela tentou se esfregar à porta, mas o frio metal era muito desconfortável. Teve que usar seus dedos, como na noite anterior, e na semana passada.

            Estava bom, mas ela teve que lembrar novamente dos únicos três homens que a comeram até então. Ela estava cansada sempre dos três rostos. Ela tinha orgasmos clitorianos muito mais que satisfatórios, mas ela queria uma imaginação mais fértil. Ela sabe que quando terminar vai sentir novamente a solidão daquele lugar frio. Esse pensamento deve ter adiado seu orgasmo em uns cinco minutos.

            Ela ficou surpresa quando seu dedo tocou sua buceta tão molhada. Ela massageava leve e rapidamente. Vez por outra, seu dedo penetrava um pouco mais sua vagina. Escorregava fácil seus dedos para dentro daquele sexo. Seus pés já não sentiam mais o frio do metal. Anna já não escutava de forma alguma os estalos do metal. Ela afastou um pouco mais suas pernas, flexionando um pouco mais seus joelhos. Começou a gemer alto, lembrando da vez que o Willian a comeu pela última vez, foi uma semana após o Marcelo ter dormido fora por precisar terminar uma peça de publicidade, mesmo tendo prometido a ela um jantar num restaurante. Ela lembrou daquela pulada de cerca com seu ex e se lembrou que William tinha o pau mais grosso dos três. Sua buceta molhava todo o seu dedo. Anna imitou seus próprios gritos de gozo enquanto gozava novamente. Ela mijou ali, de pé. A força centrífuga que imitava a gravidade fez sua urina escorrer pelas suas pernas ou simplesmente jorrar para o piso, exatamente na mesma velocidade que aconteceria na Terra. Ela escorregou pela porta fria e sentou sobre a poça morna que esfriava rapidamente naquele frio de metal.

            Anna se deitou sobre sua poça de mijo e sorriu, solitariamente. Dentro de um pouco mais de sete meses poderia transar com alguém de verdade, mesmo que tivesse de pagar. “Mesmo que tivesse de pagar”, esse pensamento se repetiu em sua cabeça e ela sorriu novamente... e ela sorriu de estar sorrindo. Ela tentou calcular mentalmente quanto deveria custar uma trepada com um garoto de vinte anos, bonito. Ela tem certeza de que, em certa altura, pensou que Goebel enfiava seu pinto germânico em seu cu. Ela achou esse pensamento particularmente engraçado e sorriu ali, sentada sobre a poça amarelada que já estava fria. Iria entrar em contato novamente com os militares por vídeo conferência dentro de umas oito horas. Ela poderia dormir um pouco antes disso. O tempo que demora entre uma pergunta e outra era particularmente desconfortável, mas não tinha outro jeito. Ela estava voltando para casa.