terça-feira, 2 de outubro de 2012

Anjos e asas



I
 Asas transparentes.
Trazia asas transparentes
O invisível anjo.

Um vôo invisível
Perturba a noite,
Livre de odores
Seu nome perpetua.

Anjos-asas
Com suas couraças e armas,
Retilíneos... oblíquos.

 
II
 Sussurrava nomes indecentes
À noite, que ouvia
Muda. Lambe e beija?
Eu era ouvido e tato.

Blasfemava seres imaginários
Que me seguiam
Com os olhos e diziam:
- Goza e segue! Vai!

Seu vulto negro pousa
E senta bem ao lado
E me impede de seguir
Suor, gozo, saliva.

O anjo, não.


III
Imaginava-o
Pregado nos dias
Nas semanas
Em meu corpo
Com dentes e unhas
Lacerando minha pele
Levemente.


 IV
 Ainda visita,
Mas de onde vem?
Suas unhas ainda desenham
Riscos apaixonados
Em minhas costas
Como num mapa.

Flores marcam o local.

O cheiro,
Um olor adocicado
Como manhãs
Como o verniz fresco de uma cadeira
Como um doce por vender
Como o cimento molhado.

As asas invisíveis
Ainda anunciam o anjo.